A engenheira queniana que empodera mulheres para a transição verde

Em um país onde mais de 70% da população vive em áreas rurais, Norah Magero dissemina conhecimento sobre energia renovável para combater Covid-19 e pobreza no campo

*Artigo publicado no jornal A Tarde em 22/03/2022

Em um país onde mais de 70% da população vive em áreas rurais, Norah Magero dissemina conhecimento sobre energia renovável para combater Covid-19 e pobreza no campo

“As mulheres são as mais atingidas pelas calamidades climáticas e, portanto, devem ser tomadas medidas deliberadas para garantir que a mitigação do clima atinja diretamente as mulheres e inclua sua participação.”

Não, a frase não pulou de um discurso em assembleia das Nações Unidas. Norah Magero, 33 anos, é uma Engenheira Mecânica de Nairobi (Quênia), especialista em Energia Renovável, fundadora e CEO da Drop Access – uma empresa social liderada por jovens mulheres que desenvolve soluções de energia limpa acessíveis.

Em um país onde mais de 70% da população vive em áreas rurais, Norah escreveu seu nome na luta contra a Covid-19 ao criar a Vaccibox, um refrigerador portátil movido a energia solar que pode ser facilmente montado em uma bicicleta ou motocicleta. Dentro dele, vacinas, suprimentos médicos e alimentos vêm sendo armazenados e transportados com segurança para comunidades afetadas não apenas pela pandemia mas também pela pobreza e pelos impactos climáticos – inclusive para povos nômades, como os Maasai.

O invento de Norah saiu do papel graças ao financiamento da fundação RES4Africa e da Startup Energy, que é alemã.

“As ações lideradas por mulheres precisam ser suficiente e equitativamente financiadas para alcançarmos uma transição justa e verde”, clama Norah.

Sabedora de que as mulheres detêm o conhecimento e a motivação naturais para empreender ações de mitigação dos impactos da mudança climática, Norah quer ver um número muito maior delas qualificado nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

“Cresci lendo livros que mostravam mulheres com bebês nas costas e trabalhando na cozinha, enquanto os homens carregavam pastas para o trabalho ou usavam uma túnica de formatura”, diz a jovem engenheira, cujo relato faz parte de uma série multimedia publicada no website da ONU para celebrar lideranças femininas do desenvolvimento sustentável.

Enquanto os bancos das universidades não são tomados por futuras cientistas, Norah vai fazendo o que pode pelas comunidades sem acesso a energia elétrica. Com sua empresa, ela percorre a zona rural do país implantando pequenos sistemas de uso produtivo de energia renovável em propriedades de agricultura familiar: desenvolvido por ela e sua equipe, o koyo (que significa frio na língua do povo Luo) é alimentado por luz solar e focado em bombeamento e refrigeração.

Assim, as famílias conseguem produzir, estocar alimento e gerar renda mesmo em meio à aridez. Mais ainda, ela treina e qualifica as mulheres agricultoras para gerar e manejar energia renovável.

“Fornecer acesso equitativo a oportunidades como educação, energia e necessidades básicas é uma maneira holística de enfrentar um espectro de desafios abordados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.” Que o planeta entenda essa lição, e rápido.  

0 0 Votos
Avaliação do artigo
Se inscrever
Notificar de
guest

0 Comentários
Feedbacks em linha
Ver todos os comentários

Comente, pergunte ou sugira um tópico para nosso blog.

Artigos

Tripla crise planetária: melhor chamar as mulheres

A Conferência Global sobre Gênero e Meio Ambiente terminou com um apelo aos líderes mundiais para que turbinem a coleta científico-estatística de dados sobre a interseção entre mudança climática e população feminina. E a razão é tão humanitária quanto pragmática: se empiricamente já se sabe que as mulheres são mais negativamente impactadas pelos efeitos do aquecimento global que os homens, por outro é amplamente constatado que elas guardam a chave das soluções de mitigação, resiliência e adaptação.

Artigos

Do lixão para a construção: o tijolo verde de Joseph Muita

Os tijolos sustentáveis de Joseph Muita provam que a circularidade é um filão rentável, que os empregos verdes têm estar na pauta das sociedades e deveriam servir de exemplo para o Brasil – que gera 82,5 milhões de toneladas/ano de resíduos sólidos urbanos, deposita inadequadamente 40% desse volume, recicla não mais que 4% e despeja todos os anos 690 mil toneladas de resíduos plásticos nos mares e oceanos.

Artigos

Defensores do decrescimento, os revolucionários contemporâneos

Movimento que vem ganhando adeptos fiéis pelo mundo, o decrescimento rejeita a crença de que aumento do PIB é sinônimo de desenvolvimento e argumenta que reduzir o uso de recursos e de energia é a única saída para desacelerar as emissões anuais de carbono, reverter a mudança climática e salvar o planeta.

0
Qual sua opinião sobre o assunto? por favor, comente.x