Entendendo Anna sob um olhar feminista

“Inventando Anna”, série da Netflix, conta a história real de Anna Vadimovna Sorokin, uma jovem nascida na Rússia que se muda da Alemanha para Nova Iorque em 2013 e cria a identidade fictícia de Anna Delvey – ela se passa, de forma bastante convincente, por uma rica herdeira alemã.

Anna foi presa em 2017 e condenada em 2019 pela Justiça americana em várias acusações de tentativa de roubo qualificado, roubo de serviços, furto de propriedade, fraude em hotéis de Nova Iorque e prática de estelionato contra milionários do jet set onde a jovem circulou com desenvoltura e de onde arrebanhou amigos.

Vou antecipar que não faço aqui uma defesa de Anna Delvey e de suas ações criminosas; o que quero é jogar luz sobre as histórias paralelas que permeiam e integram a saga da envolvente personagem real – e que dialogam com corriqueiras situações, em todo o mundo, quando se trata de mulheres que conquistaram e ocuparam seus espaços dentro dos mais variados contextos em ambientes predominantemente masculinos.

Dentro do círculo de ricaços, celebridades e subcelebridades das quais Anna se cercou está, por exemplo, Nora Radford, uma empreendedora à frente de sete organizações filantrópicas e anfitriã de frequentes confraternizações entre mulheres da mais alta casta social novaiorquina.

Elas se orgulham de terem fundado o seu próprio ”clube da Luluzinha”, já que não tinham espaço nos campos de golfes e nos clubs frequentados pelos empresários homens. São mulheres ricas e bem sucedidas que ascenderam nos negócios por mérito próprio e autonomia como businesswomen.

Outra personagem da série é Talia Malley, nascida em berço de ouro mas orgulhosa de não ter se contentado em simplesmente viver das conquistas da família: ela constrói sua própria trajetória como colecionadora de arte e empresária de sucesso.

Fora do núcleo dos ricos – mas que se torna personagem-chave, amiga e confidente da Anna -, está Neff, recepcionista de hotel e aspirante a cineasta. Neff é uma jovem negra de classe social baixa, estudante de cinema e lutando por realizar um sonho, que é produzir o seu primeiro filme.

Outras personagens femininas da história de Anna Delvey que podemos pontuar são Kacy Duke, (vivida pela atriz transexual Laverne Cox), uma personnal trainner disputada por estrelas; e Rachel Williams, fotógrafa, escritora e editora (em uma cena emblemática do episódio sete essas personagens dão um show de empatia e sororidade ao revelarem que, mesmo após suspeitarem de que Anna não passava de uma impostora, tentaram intervir para que a “ex-amiga” contasse toda a verdade e procurasse ajuda antes que a situação ficasse completamente descontrolada e caótica, com envolvimento da polícia e da Justiça).

Para finalizar, e evitando deixar aqui spoilers sobre a série, cito uma das personagens principais da trama, a jornalista Vivian Kent. É através dos olhos dessa personagem que acompanhamos a história de Anna Delvey. A jornalista demonstra princípios morais e de lealdade que ficam muito evidentes na série.

Ela se destaca pela sua personalidade corajosa e irresignada, não se submete às pautas que considera superficiais vindas dos seus editores e chefes (homens) e luta para escrever sobre o que acredita ser uma pauta importante e que merece ser lida pelo público leitor do jornal (na vida real, foi um longo artigo da jornalista Jessica Pressler publicado na New York Magazine, e resultante de sua reportagem investigativa sobre Anna Sorokin, que originou o roteiro da série).

Os homens, por outro lado, são personagens em segundo plano, meros coadjuvantes dessas mulheres de sucesso que protagonizam as cenas da trama – uma mensagem subliminar de empoderamento feminino.

Com foco na ODS 5 (objetivo de desenvolvimento sustentável) a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), integra e determina metas para alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas com ações que devem ser colocadas em prática pelos 193 países-membro da ONU.

Esforços do cumprimento das metas da ODS 5 com aplicação no Brasil incluem: “eliminar a desigualdade na divisão sexual do trabalho remunerado e não remunerado, inclusive no trabalho doméstico e de cuidados,promovendo maior autonomia de todas as mulheres (…)” (Meta 5.4) e garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na esfera pública, em suas dimensões política e econômica (…)” (Meta 5.5).

Assim, podemos retratar que a série “Iventando Anna”, além de contar a história por trás dos cometimentos dos crimes e da condenação dessa jovem de 25 anos, em uma mensagem de que “o crime não compensa”, também cumpre o seu papel de inspirar mulheres – do outro lado – a chegarem, ou lutarem para chegar ao sucesso por meios lícitos e louváveis.

Anna Delvey, foi encontrada como culpada por tentativa de furto, duas acusações de furto em segundo grau, furto em terceiro grau e roubo de serviços. Ela foi condenada a uma pena entre quatro e 12 anos de prisão e libertada em fevereiro de 2021, por bom comportamento. Tendo sido presa novamente no mês seguinte, com visto vencido e deportada para Frankfurt.

A Netflix comprou os direitos da história de Anna por US$ 320 mil (cerca de R$ 1,65 milhão). Na carta à INSIDER, Delvey explicou que “pagou a restituição do caso criminal integralmente aos bancos dos quais tirou dinheiro” graças ao pagamento da Netflix.

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