Elas lideram a preservação de ilha de corais na Colômbia

Cientistas e mergulhadoras, elas desafiam a desigualdade de gênero na indústria marinha para desacelerar os impactos da degradação ambiental e das mudanças climáticas sobre San Andrés, a maior ilha do Seaflower, na Colômbia.  

Conhecida pelas águas cristalinas, essa ilha colombiana que é a terceira maior barreira de corais do planeta é um destino chique de turismo e mergulho visitado por mais de um milhão de pessoas anualmente.

O preço a pagar foi a degradação ambiental, cujos efeitos vão desde a redução da cobertura de coral – que impacta o ponto de acesso para conservação de espécies de tubarão -, até a ameaça à subsistência do povo Raizal, grupo étnico afro-caribenho que depende do ecossistema para praticar a pesca.

Além da ação humana – que inclui pesca predatória, más práticas de turismo, poluição e descarte de esgoto -, os corais da Reserva da Biosfera Seaflower enfrentam ainda o aumento da temperatura global e a acidificação da água, causada por emissões excessivas de carbono.

Estragos que a Blue Indigo Foundation, uma organização comunitária liderada por mulheres que trabalham para o desenvolvimento sustentável do arquipélago, tenta reverter ou pelo menos desacelerar.

Os ecossistemas que Maria Fernanda Maya e Mariana Gnecco atuam para restaurar são essenciais para proteger a comunidade durante eventos climáticos extremos. Cientistas colombianos provaram, por exemplo, que ao conter a velocidade do vento em mais de 60 km/h o mangue protegeu San Andrés durante os furacões Eta e Iota em 2020.

Sabe-se também que, saudáveis, os recifes de coral podem diminuir em quase 95% a altura das ondas que vêm do leste do Mar do Caribe e reduzir sua força durante as tempestades.

Segundo a Unesco, as mulheres representam apenas 38% dos cientistas oceânicos em atuação no mundo. Por outro lado, afirma a organização, elas vêm se envolvendo em todos os aspectos da interação oceânica e contribuem tanto para meios de subsistência baseados nos mares (como a pesca) quanto para os esforços de conservação. 

No Brasil, de acordo com a FAO, cerca de 3,5 milhões de pessoas dependem direta ou indiretamente da atividade pesqueira.

Essa é uma das razões pelas quais são urgentes ações que detenham não só os impactos das mudanças climáticas sobre nossos oceanos como também as atividades humanas destrutivas, como a pesca predatória e o lançamento de dejetos: somos, por exemplo, o quarto país em volume de plásticos lançados nas correntes marinhas, 38 milhões de quilos por ano, atrás somente da Índia, China e Indonésia.

Se os empresários brasileiros desejosos de fazer boa figura entre os megainvestidores que privilegiam a responsabilidade corporativa socioambiental procurarem direitinho, haverão de encontrar (e financiar) mulheres com soluções e projetos voltados para a proteção da nossa parte no Atlântico. Afinal, ESG é a cartilha da moda.

Artigo publicado pelo Jornal A Tarde (Bahia) em 16 de Setembro de 2022

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