- Por Ludmilla Duarte
As caixas de cor azul e cinza são fornecidas pela prefeitura, assim como as embalagens duras grandes, uma azul outra amarela, onde devem ser depositados os jornais e os papéis usados, respectivamente. Na caixa cinza, vão latas de alumínio e garrafas de vidro. Nas azuis, todas as outras embalagens recicláveis.
O lixo orgânico, dentro do tonel com rodinhas, tem que estar nos sacos de papel marrom. O lixo comum (todo tipo de material não-reciclável), no outro tonel, e acondicionado em sacos grandes pretos de plástico.
O aviso sobre dia e hora da coleta chega por email e SMS, mas ainda há o risco do nosso lixo, ou parte dele, nem ser levado naquela semana pelos funcionários da empresa pública: as embalagens recicláveis têm que estar limpas, não pode haver volume excessivo no recipiente, os tonéis não podem estar contaminados por chorume ou formigas, se houver embalagem não-reciclável perdida entre os recicláveis, todo o lixo dali é ignorado. E, de lambuja, multa.
A coleta seletiva é assim, dura lex, sed lex, em Vancouver – cidade canadense que ambiciona o título de mais verde do mundo (e a reciclagem, um dos índices mais altos do país, 63% dos resíduos descartados, é só um dos itens do Plano de Ação para chegar lá).
Ao separar seu lixo dentro dos padrões que tornam a reciclagem possível, cada cidadão se torna responsável e protagonista da meta ambiental. É um exercício do qual crianças e adolescentes participam (e naturalizam) todos os dias.
O morador de Vancouver (que adora a alcunha de Vancouverite), é orgulhoso dos triunfos da cidade, sempre rankeada entre as cinco com melhor qualidade de vida do mundo. Não é raro, portanto, topar com quem entenda perfeitamente os porquês: quando o papel é reciclado, menos árvores serão cortadas pela indústria que produz mais papel; quando o plástico (que é produto não-biogradável) é reciclado, menos plástico novo é produzido e mais plástico velho é desviado do sistema de descarte.
A preocupação com o lixo tem também pegadas econômica e social. Cada vez que é acionado, o incinerador de Burnaby transforma 6 mil toneladas de aço, ferro e cobre – que, de outra forma, permaneceriam indefinidamente em um aterro – em energia suficiente para abastecer 16 mil casas. O governo local promete investir este ano US$ 1,84 milhão na contratação de moradores de rua para melhorar a retirada de “microlixo” das ruas e calçadas.
Em Salvador, apenas 0,5% do lixo é reciclado segundo o levantamento mais recente da Associação das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O Brasil, segundo a WWF, produz mais de 11 milhões de toneladas anuais de lixo e recicla somente 1,28% disso. Alguma cidade precisa assumir o protagonismo verde no país. Bem que podia ser a nossa.
- Ludmilla Duarte é Jornalista, Especialista em Direitos Humanos, mestre em Política Pública e Administração pela Adler University (Vancouver, Canadá) e doutoranda em Política Ambiental na Universidade de Nairobi (Kenya).