“Amigo da família” ou lobo atrás da porta?

Uma crescente mobilização nas redes sociais e uma enxurrada de comentários sobre o combate à pedofilia resultou da divulgação do vídeo de uma reunião familiar na casa de famoso cantor sertanejo (com mais de 30 milhões de seguidores no Instagram).

No vídeo, resumidamente, aparece um homem adulto tentando abraçar por trás uma menina que aparentava não mais que 10 (dez) anos, com trajes de banho (biquíni). Incomodada, a garota instintivamente o empurra, e o mesmo se afasta.

Sem fazer juízo de valor quanto ao fato em concreto, de maneira consciente ou inconsciente nota-se que foram tocados os seios e barriga da criança.

Com razão a revolta dos internautas, que cobraram respostas do cantor e de sua família. Além de ser considerado um dos grandes nomes da música sertaneja do momento, ele é também influenciador digital com grande alcance e engajamento nas redes sociais.

Provocados a se manifestar, o cantor e sua esposa se resumiram a responder que o tal homem era pessoa de “confiança da família”, um “homem de Deus”, apontaram como “absurdas” as indagações e a revolta do público.

Será mesmo? Será que a confiança depositada em nossos parentes, amigos, membros de instituições como igrejas, escolas e demais, tão somente, eliminam de maneira incontestável a possibilidade de abusos as crianças?

A Agência Brasil afirma que essa máxima não é verdadeira.

Dados atualizados do Disque 100 mostram que foram registradas cerca de 35 mil denúncias de violência contra crianças e adolescentes em 2021, até maio – e 17,5% do total, ou 6 mil denúncias, envolvem violência sexual.

De 2011 ate o primeiro semestre de 2019 foram registradas mais de 200 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, segundo dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos.

O levantamento divulgado em 2019, que trouxe um perfil mais detalhado, apontou que mais de 70% dos casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são praticados por pais, mães, padrastos ou outros parentes das vítimas. Em mais de 70% dos registros, a violência foi cometida na casa do abusador ou da vítima.  O suspeito é do sexo masculino em 87% dos registros e, igualmente, de idade adulta, entre 25 e 40 anos, para 62% dos casos. A vítima é adolescente, entre 12 e 17 anos, e do sexo feminino em 46% das denúncias recebidas.

Para Adriana Faria, subsecretária de Políticas para Crianças e Adolescentes da Secretaria de Justiça do DF, as crianças, em boa parte dos casos, não têm noção do que é o abuso sexual.

“Aquilo incomoda, ela geralmente sabe que aquilo é errado, mas não necessariamente que é um abuso sexual que precisa ser denunciado. A gente precisa criar mecanismos para que elas conheçam o próprio corpo, saibam proteger o próprio corpo e saibam identificar que tem algo de errado e como elas podem buscar ajuda, justamente porque muitas vezes acontece dentro de casa e não dá para procurar nem pai, nem mãe. Tem que saber procurador um professor na escola, ou um conselho tutelar”, explica.

O Disque 100, o app Direitos Humanos e o site da ONDH são gratuitos e funcionam 24 horas por dia, inclusive em feriados e nos finais de semana.

Os canais funcionam como “pronto-socorro dos direitos humanos, pois atendem também graves situações de violações que acabaram de ocorrer ou que ainda estão em curso, acionando os órgãos competentes e possibilitando o flagrante.

A violência contra crianças e mulheres deve ser combatida por todos. Conheça como e onde denunciar neste outro artigo do meu blog.

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