*por Ludmilla Duarte
(artigo publicado pelo jornal A Tarde, versão impressa, em 21 de Dezembro de 2023)
Em 12 de Dezembro em Dubai, o final da COP28 – mais importante tabuleiro global de negociações ambientais – caiu como uma bomba no planeta e deve mudar o olhar das economias de todo o mundo a partir de 2024.
Mais de 200 Nações (inclusive os EUA) aprovaram um roteiro de transição dos combustíveis fósseis para energias renováveis cedendo ao inevitável: a combustão do carvão, petróleo e gás é a grande responsável pelas mudanças climáticas.
Apesar de sem precedentes em 30 anos de negociações ambientais, o desfecho desagradou a líderes ambientais e cientistas, que tinham esperança de testemunhar um compromisso mundial pela eliminação progressiva dos combustíveis fósseis de modo a limitar o aquecimento global a 1,5 ° C conforme estabelecido em 2015 no Acordo de Paris.
O Brasil, um dos 20 maiores produtores mundiais de petróleo, manda sinais paradoxais. Em seu discurso na COP28, o presidente Lula enfatizou a necessidade de se “enfrentar o debate sobre a lentidão da descarbonização do planeta, e trabalhar por uma economia menos dependente dos combustíveis fósseis”.
Mas o Production Gap Report, lançado em novembro pela ONU Meio Ambiente, registra que o Plano de Negócios da Petrobras prevê aumento da produção de petróleo e gás em 63% e 124%, respetivamente, entre 2022 e 2032, e que o governo anunciou a intenção de “transformar o Brasil no quarto maior produtor mundial de petróleo.”
É um jogo de demanda e oferta cujo parâmetro pode ser subvertido pelas sociedades e pelas administrações locais – especialmente nos transportes, responsáveis por um quarto das emissões globais de dióxido de carbono relacionadas com a energia.
No Brasil, iniciativas tímidas, mas sólidas, em mobilidade sustentável começam a pipocar. Sempre na vanguarda do transporte urbano, Curitiba acaba de conseguir a aprovação pelo Legislativo Municipal de gastar R$ 317 milhões na compra de 70 ônibus elétricos que devem começar a rodar em junho de 2024. As metas de Curitiba são ambiciosas: 33% da frota eletrificada até 2030 e 100% até 2050, alcançando pegada de carbono zero no transporte público.
Fortaleza tem se destacado na mobilidade ativa: pelos esforços da cidade em promover a locomoção em bicicleta (a capital cearense tem hoje mais de 400 km de ciclovias), Fortaleza venceu em junho o prêmio global Bloomberg de ciclomobilidade e recebeu USD 1 milhão para construir mais 180 km de malha cicloviária em três anos.
Salvador também recebeu, neste mês de dezembro, autorização da Câmara para adquirir 120 veículos elétricos para o sistema BRT e alcançará uma frota de 170. Salvador também inaugurou, em setembro, um terminal de eletrocarga capaz de carregar até 20 ônibus elétricos simultaneamente
Em 2025, quando as Nações reunidas em Belém do Pará avaliarem o estado da transição energética na COP30, quem sabe as cidades brasileiras tenham alguns bons exemplos para dar ao mundo.
**Ludmilla Duarte é Jornalista, Especialista em Direitos Humanos, mestre em Política Pública e Administração pela Adler University (Vancouver, Canadá) e doutoranda em Política Ambiental na Universidade de Nairobi (Quênia). Ela também é Redatora SEO deste blog. Email: [email protected]
Luma querida, muito orgulho de você. Seu compromisso com a justiça, a equidade, o bem é genuíno e contribui para a construção de um mundo melhor. Parece pouco diante dos desafios. Mas não é, creia-me.
O artigo da sua mãe é brilhante. Demonstra como sempre maturidade, solidez intelectual e espírito transformador.
Um alerta e um sopro de esperança.
Um feliz Natal.