Elas entregam: o delivery sustentável das mulheres do Togo

Capitaneado pela fabricante ganense de bicicletas elétricas Wahu Mobility, o projeto piloto em Lomé é financiado pelo Fundo Global para o Ambiente (GEF), mediado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pretende provar para o planeta que a transição para o empreendedorismo verde e para um transporte com baixa pegada de carbono deve ser feminina.
Legenda: De posse de um telefone Android ou iOS e de uma bicicleta Wahu, 20 mulheres da capital do Togo pedalarão por sua autonomia financeira enquanto conectam consumidores ao delivery sobre bicicletas elétricas por meio de plataformas digitais (foto: Lookstudio/Freepik)

*Por Luma Dórea

Os combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás – são os maiores contribuintes para as alterações climáticas no mundo, representando mais de 75% das emissões globais de gases de efeito de estufa.

As mulheres foram as mais impactadas pelo desemprego dos anos do coronavírus. As mulheres são as mais negativamente afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas. Elas são também parte da solução do aquecimento global.

Endereçando as quatro premissas acima, o projeto Women Delivers (“As mulheres entregam”) foi lançado em 2023 no Togo, Oeste da África.

Capitaneado pela fabricante ganense de bicicletas elétricas Wahu Mobility, esse piloto é financiado pelo Fundo Global para o Ambiente (GEF), mediado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pretende provar para o planeta que a transição para o empreendedorismo verde e para um transporte com baixa pegada de carbono deve ser feminina.

De posse de um telefone Android ou iOS e de uma bicicleta Wahu, vinte mulheres de Lomé, capital do Togo, pedalarão por sua autonomia financeira enquanto conectam consumidores a veículos elétricos por meio de plataformas digitais e tentam virar um modelo para o mundo. As eBikes são dotadas de duas baterias que carregam em quatro horas e duram por 140 km, suportam até 150 kg e atingem 40 km/h. 

Mulheres e mobilidade sustentável já formam uma combinação natural no planeta. Em várias partes do mundo, segundo o PNUMA, um número significativo de mulheres e meninas se desloca para trabalho ou escola com baixa pegada de carbono (especialmente a pé e de bicicleta) – e iniciativas ainda pontuais começam a tirar vantagem dessa identificação que alia empoderamento feminino a sustentabilidade.

Em Bogotá, Colômbia, um projeto da prefeita Claudia Lopez colocou mulheres no volante da frota de ônibus totalmente elétrica da empresa La Rolita, 80% estatal e com 195 veículos em circulação.

Em Nairobi, Quênia, a Ecobodaa – empresa que oferece mototáxis movidos a energia elétrica em uma das maiores favelas da África, a de Kibera -, oferece linhas de financiamento mais vantajosas para mulheres em um esforço para ampliar o número delas no comando do transporte. Além disso, a empresa selecionou e treinou mulheres de Kibera antes de disponibilizar o primeiro lote de motocicletas elétricas em 2020. 

 No Brasil, que está entre os cinco maiores emissores de gases de efeito estufa (2,4 bilhões de toneladas brutas lançadas em 2021, segundo o Observatório do Clima), a mobilidade sustentável ainda parece longe de virar política pública. E ainda mais longe parece estar a consciência coletiva e política de que a liderança feminina em ações e iniciativa sustentáveis é a chave para a reversão das mudanças climáticas.

*Luma Dórea é advogada ecofeminista, especialista em Direito Público, doutoranda em Direito Ambiental na Universidade de Nairobi (Quênia) e autora do blog www.dralumadorea.com.br. Email: [email protected]

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