Os recursos da diversidade biológica do planeta são os pilares sobre os quais as civilizações foram construîdas.
Sabe-se, por exemplo, que ainda hoje os peixes fornecem 20% da proteína animal para cerca de 3 bilhões de pessoas; que mais de 80% da alimentação humana é oriunda de vegetais; que cerca de 80% das pessoas que vivem em áreas rurais nos países em desenvolvimento dependem de medicamentos tradicionais à base de plantas para manter os cuidados básicos de saúde.
À medida que a comunidade global é instada a reexaminar sua relação com o mundo natural, uma coisa é certa: apesar de todos os nossos avanços tecnológicos, somos completamente dependentes de ecossistemas saudáveis para seguirmos tendo acesso a água potável, comida, remédios, roupas, combustível, abrigo e energia – apenas para citar alguns.
Por isso, a Organização das Nações Unidas, dentro do Calendário dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, instituíu 22 de Maio como o Dia Internacional da Diversidade Biológica, e o tema para 2022 é “Construindo um futuro compartilhado para toda a vida”.
A perda de biodiversidade ameaça a todos, incluindo a saúde humana. Está provado, por exemplo, que destruição de biodiversidade causa a expansão de zoonoses, doenças transmitidas de animais para humanos. Por outro lado, se mantemos a biodiversidade intacta, ela oferece excelentes ferramentas para combater pandemias (como as causadas pelo coronavírus).
Em suma: sempre que a biodiversidade tem um problema, a humanidade tem um problema.
Brasil assinou a Convenção internacional
Inserido no contexto da Década da Restauração das Nações Unidas, que está em curso, a ONU destaca que a biodiversidade é a resposta a vários desafios do desenvolvimento sustentável, e o slogan de 2022 transmite a mensagem de que a biodiversidade é a base sobre a qual podemos reconstruir um planeta melhor.
Em 22 de maio também se celebra os 29 anos de implementação da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que foi assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro entre 5 e 14 de junho de 1992.
Em seu preâmbulo, a Convenção sobre Diversidade Biológica (promulgada no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 2.519 em março de 1998), estabelece que os Estados-membros da ONU, signatários do documento, devem estar“conscientes do valor intrínseco da diversidade biológica e dos valores ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético da diversidade biológica e de seus componentes; também da “importância da diversidade biológica para a evolução e para a manutenção dos sistemas necessários à vida da biosfera,” afirmando que a “conservação da diversidade biológica é uma preocupação comum à humanidade”.
Mas o que é exatamente a diversidade biológica?
A diversidade biológica é muitas vezes entendida em termos da grande variedade de plantas, animais e microrganismos. Mas ela também inclui diferenças genéticas dentro de cada espécie – por exemplo, entre variedades de culturas e raças de gado – e a variedade de ecossistemas (lagos, florestas, desertos, paisagens agrícolas) que hospedam múltiplos tipos de interações entre seus integrantes (humanos, plantas, animais).
Embora haja um crescente reconhecimento de que a diversidade biológica é um bem global de enorme valor para as gerações futuras, o número de espécies está sendo significativamente reduzido por atividades humanas.
Entre as consequências globais, está, por exemplo, o fato de que 1 milhão de espécies animais e vegetais estão agora ameaçadas de extinção; três quartos do ambiente terrestre e cerca de 66% do ambiente marinho foram significativamente alterados por ações humanas.
No Brasil, os principais ecossistemas apresentam perda e ameaça de sua biodiversidade – principalmente o Cerrado, uma das regiões de maior biodiversidade do mundo, onde se estima que estejam abrigadas mais de 6 mil espécies de árvores e 800 espécies de aves, entre outras.
Segundo o braço brasileiro da organização ambientalista internacional WWF, um dos impactos ambientais da ação humana mais graves na região do Cerrado foi causado por garimpos, que contaminaram os rios com mercúrio e provocaram o assoreamento dos cursos de água (bloqueio por terra).
Nos últimos anos, contudo, a expansão da agricultura e da pecuária representa o maior fator de risco para o Cerrado, conforme levantou a WWF – especialmente a monocultura intensiva de grãos e a pecuária extensiva de baixa tecnologia.
“O uso de técnicas de aproveitamento intensivo dos solos tem provocado, há anos, o esgotamento dos recursos locais. A utilização indiscriminada de agrotóxicos e fertilizantes tem contaminado também o solo e a água. Os poucos blocos de vegetação nativa ainda inalterada no Cerrado devem ser considerados prioritários para implementação de áreas protegidas, já que apenas 0,85% do Cerrado encontra-se oficialmente em unidades de conservação”, alerta a organização.
A destruição e a fragmentação de habitats consistem, atualmente, na maior ameaça à integridade do Cerrado: 60% da área total é destinada à pecuária e 6% aos grãos, principalmente soja.
Cerca de 80% do Cerrado já foi modificado pelo homem por causa da expansão agropecuária, urbana e construção de estradas; aproximadamente 40% conserva parcialmente suas características iniciais e outros 40% já as perderam totalmente. Somente 19,15% corresponde a áreas nas quais a vegetação original ainda está em bom estado.
Bioma 100% brasileiro sob ataque
Mudanças na cobertura da terra nas últimas três décadas estão agravando o risco de desertificação de partes da Caatinga, concluíu uma análise do MapBiomas feita a partir de imagens de satélite da região entre os anos de 1985 e 2020.
Nesse período, apontou o estudo, 112 municípios da Caatinga (9%) classificados como Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD) com status Muito grave e Grave tiveram uma perda de 0,3 milhões de hectares de vegetação nativa. Isso representa cerca de 3% de toda a vegetação nativa perdida entre 1985-2020 na Caatinga. Desse total, 0,28 milhões de hectares foram perdidos em 45 municípios da Paraíba classificados como ASD.
Único bioma exclusivamente brasileiro, a Caatinga corresponde a 11% do território nacional – área que abrange cerca de 27 milhões de pessoas, a maioria pobre e dependente dos recursos do bioma para sobreviver.
Boa parte de seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em outro lugar do mundo, o que torna este bioma tão importante para o país. Tal importância, no entanto, não impede que 46% de seu território, um total de 844.453km², seja hoje desmatado e explorado de forma ilegal, conforme denuncia o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
A água, um recurso precioso (e escasso) da Caatinga, tem sido gravemente impactada pela irresponsabilidade humana. Segundo levantou o MapBiomas, houve um decréscimo de 8,27% (-79.346 ha) na superfície de água.
“De forma geral, a Caatinga ficou mais seca nos últimos 36 anos. Além da redução da superfície total de água, houve também uma retração de 40% na água natural entre 1985 e 2020. Essa categoria, que engloba os cursos de água que fluem livremente, respondia por menos de um terço (27,48%) da superfície de água da Caatinga em 2020. A maior parte estava retida em hidrelétricas (42,69%) ou reservatórios (29,61%)”, revelou o estudo.
Entre os principais responsáveis da perda de vegetação nativa na caatinga está o avanço da atividade agropecuária: entre 1985 e 2020, mais de 10 milhões de hectares de savana e formações florestais foram convertidos em atividades associadas à agropecuária. Outros 1,26 milhões de hectares de vegetação não florestal foram convertidos para o mesmo uso no período. No total, a agropecuária avançou sobre 11,26 milhões de hectares da Caatinga e passou a responder por 35,2% da área do bioma em 2020.
- Para saber mais
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) é considerado um instrumento internacional chave para o desenvolvimento sustentável.
O Quadro Global de Biodiversidade Pós-2020 é um pacote ambicioso de medidas para transformar a relação da sociedade com a biodiversidade até 2050. Entre seus objetivos: restaurar 20% dos ecossistemas degradados e reduzir a introdução ou assentamento de espécies exóticas invasoras em 50%.
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parabens! excelente artigo Luma!