Relação entre Esporte e desenvolvimento sustentável é o destaque do mês de abril

Enquanto os países em desenvolvimento associam pedalar para o trabalho à pobreza, países ricos tiram carros da rua e multiplicam ciclovias, criando cidades resilientes, limpas e seguras
Além do pedal, outras formas de transporte sustentável se conectam com a prática de atividades físicas, como a caminhada, os patinetes elétricos e o skate – os dois últimos já bem comuns entre habitantes de cidades avançadas em infraestrutura viária sustentável e amigável (foto: Callum Shaw/Unsplash)

Sim, o esporte pode ser um grande aliado no enfrentamento da crise climática. Neste ano de 2022, o Dia Internacional do Esporte para o Desenvolvimento e pela Paz, definido no calendário das Nações Unidas para 6 de abril desde a assembleia geral de 2013, volta suas baterias para o meio ambiente ao adotar o lema “Garantindo um futuro sustentável e pacífico para todos: a contribuição do esporte”.

Na sede da ONU em Nova York, a celebração de 6 de abril vai clamar ao mundo para que o esporte seja usado como ferramenta para fazer avançar os Direitos Humanos e o Desenvolvimento Sustentável.

O destaque para as ações que podem reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar as mudanças climáticas recebe o luxuoso reforço da recém-aprovada Resolução 76/255.

Por unanimidade, em 15 de março último os 193 países-membros assinaram e ratificaram um documento não-vinculante recomendando que gestores públicos de todo o planeta integrem a bicicleta aos seus sistemas de transporte público como forma de impulsionar o desenvolvimento sustentável planejado na Agenda 2030 – que é global.

Além do pedal, outras formas de transporte sustentável se conectam com a prática de atividades físicas, como a caminhada, os patinetes elétricos e o skate – os dois últimos já bem comuns entre habitantes (de todas as idades) de cidades avançadas em infraestrutura viária sustentável e amigável, como Vancouver (Canadá), Copenhague (Dinamarca) e Ultrecht (Alemanha).

Transporte sustentável, aliás, é definido pela ONU como aquela prestação de serviços e infraestrutura para a mobilidade de pessoas e bens que, ao promover o desenvolvimento econômico e social para beneficiar as gerações atuais e futuras, o faz de uma maneira segura, acessível, eficiente, resiliente, minimizando as emissões de gases poluentes e os impactos ambientais.

  • O status de ter um carro

A Resolução 76/255 expõe textualmente uma dose de preconceito dos países em desenvolvimento: neles, afirma o documento, pedalar para o trabalho é muitas vezes associado à pobreza, à falta de recursos financeiros adequados das famílias e à incapacidade de elevar o padrão de vida – cujo simbolismo forte é a aquisição de um automóvel.

Mas é exatamente nos países de baixa e média renda que ocorrem mais de 90% das mortes no trânsito (1,24 milhão de vítimas fatais anualmente, segundo o relatório Mobilizing Sustainable Transport for Development). Enquanto isso, os países mais ricos tiram carros da rua e multiplicam ciclovias, criando cidades resilientes, mais limpas, mais seguras e menos barulhentas.

O Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, por exemplo, dá uma ideia do efeito poluente dos veículos movidos a combustíveis fósseis: eles são responsáveis por 72,6% da emissão de gases do efeito estufa, enquanto transportam apenas 30% da população.

Como destaca o documento aprovado pelos 193 países (o Brasil incluído), a bicicleta é singular, longeva e versátil: ela está em uso há dois séculos; é simples, acessível para o bolso, confiável, limpa; é sustentável, ajuda na gestão ambiental das cidades e traz benefícios para a Saúde.

Além de encorajar os gestores públicos a integrarem as bicicletas aos sistemas de transporte público urbano e rural, a resolução os incentiva a dedicar especial atenção aos pedais nas estratégias transversais de desenvolvimento, incluindo serviços de bicicleta compartilhada.

Outra recomendação é estabelecer políticas de desenvolvimento internacionais, regionais, nacionais, subnacionais e programas que incluam a infraestrutura e as redes cicloviárias na conexão entre comunidades.

  • Um chamamento aos atletas

A data também é um chamamento das Nações Unidas para os ídolos do esporte de todo o planeta a emitirem, aos seus admiradores, mensagens a favor do desenvolvimento sustentável.

“O esporte está em uma posição única para mostrar liderança, assumir a responsabilidade por sua pegada de carbono, engajar-se em uma jornada neutra em relação ao clima, incentivar ações além do setor esportivo e desempenhar um papel importante na ampliação da conscientização entre seus bilhões de espectadores, patrocinadores e seguidores em todos os níveis”, afirma a ONU.

 “Com a necessidade de ação urgente aumentando a cada dia, a relação entre esporte e clima deve ser melhor compreendida, e as formas de desenvolver políticas e tomar ações concretas para ajudar a reverter o impacto das mudanças climáticas por meio do esporte devem ser comunicadas a um público o mais amplo possível.”

Se quiser ler mais sobre o tópico, clique aqui.

Para conhecer um pouquinho sobre o transporte sustentável na Cidade do México, acesse este vídeo de 2 minutinhos.

5 1 Voto
Avaliação do artigo
Se inscrever
Notificar de
guest

0 Comentários
Feedbacks em linha
Ver todos os comentários

Comente, pergunte ou sugira um tópico para nosso blog.

Artigos

Tripla crise planetária: melhor chamar as mulheres

A Conferência Global sobre Gênero e Meio Ambiente terminou com um apelo aos líderes mundiais para que turbinem a coleta científico-estatística de dados sobre a interseção entre mudança climática e população feminina. E a razão é tão humanitária quanto pragmática: se empiricamente já se sabe que as mulheres são mais negativamente impactadas pelos efeitos do aquecimento global que os homens, por outro é amplamente constatado que elas guardam a chave das soluções de mitigação, resiliência e adaptação.

Artigos

Do lixão para a construção: o tijolo verde de Joseph Muita

Os tijolos sustentáveis de Joseph Muita provam que a circularidade é um filão rentável, que os empregos verdes têm estar na pauta das sociedades e deveriam servir de exemplo para o Brasil – que gera 82,5 milhões de toneladas/ano de resíduos sólidos urbanos, deposita inadequadamente 40% desse volume, recicla não mais que 4% e despeja todos os anos 690 mil toneladas de resíduos plásticos nos mares e oceanos.

Artigos

Defensores do decrescimento, os revolucionários contemporâneos

Movimento que vem ganhando adeptos fiéis pelo mundo, o decrescimento rejeita a crença de que aumento do PIB é sinônimo de desenvolvimento e argumenta que reduzir o uso de recursos e de energia é a única saída para desacelerar as emissões anuais de carbono, reverter a mudança climática e salvar o planeta.

0
Qual sua opinião sobre o assunto? por favor, comente.x