Zelar por uma floresta é possível, prova o Canadá

Com 94% de áreas florestais sob gestão pública, os regulamentos e políticas exigem planejamento do uso da terra, respeito aos aborígenes, proteção do habitat da vida selvagem, disciplina na colheita de madeira e reflorestamento
O manejo florestal sustentável da Floresta Boreal canadense é garantido por um sistema que inclui leis estritas, monitoramento e fiscalização; tudo baseado em ciência (imagem: Dmitry Bukhantsov/Unsplash)

A floresta boreal do Canadá se estende por 270 milhões de hectares e, ao lado da tundra boreal russa, é atualmente a maior área de florestas intactas do planeta.

A zona boreal canadense abriga pinheiros, abetos, lariços, álamos e bétulas; milhares de lagos, rios e pântanos; 150 espécies de pássaros; 3,7 milhões de pessoas que frequentemente vivem em comunidades rurais e remotas do bioma – entre elas, 70% das comunidades aborígenes do Canadá.            

Tudo baseado em ciência: uma revisão em larga escala da literatura científica sobre a zona boreal foi recentemente concluída por pesquisadores do Serviço Florestal Canadense. O documento baliza e informa as políticas e o planejamento.

“A floresta boreal do Canadá armazena carbono, purifica o ar e a água, regula o clima. Como uma grande parte da zona boreal do planeta (28% ou 552 milhões de hectares) fica no Canadá, a floresta boreal deste país afeta a saúde do meio ambiente em todo o mundo. A zona boreal é crucial para a economia devido à disponibilidade de produtos madeireiros e não-madeireiros, recursos minerais e energéticos e potencial hidrelétrico dos rios regionais; fornece alimentos e matérias-primas renováveis ​​para os canadenses. As florestas boreais são cultural e economicamente significativas para os povos aborígenes do Canadá”.  É a declaração do governo canadense no website oficial.

O manejo florestal sustentável é garantido por um sistema que inclui leis estritas, monitoramento e fiscalização. Com 94% de áreas florestais sob gestão pública, os regulamentos e políticas exigem, por exemplo, planejamento do uso da terra, respeito aos interesses dos aborígenes, proteção do habitat da vida selvagem, disciplina sobre a colheita de madeira e práticas de reflorestamento.

Desde 1992, a maior variação negativa de cobertura florestal ocorreu na Bacia Amazônica, seguida pela África Central, Indonésia e Papua Nova Guiné. Entre 2019 e 2021, o Brasil perdeu 42 mil km² de vegetação nativa segundo o Relatório Anual de Desmatamento do MapBiomas, que acaba de ser divulgado. Em 2021, a destruição cresceu 20% em relação ao ano anterior.

A fiscalização cada vez mais frouxa encorajou organizações criminosas a diversificarem seus negócios dentro da floresta Amazônica. Além de administrar as rotas da cocaína que saem da Bolívia e da Colômbia, elas agora também praticam grilagem de terras, extração ilegal de madeira, garimpo em áreas protegidas e em terras indígenas. Foi o que recentemente identificou a operação Handroanthus, da Polícia Federal.

  A Amazônia é o ecossistema mais biodiverso do planeta. Ela contribui para retirar dióxido de carbono da atmosfera, ajuda a estabilizar os ciclos de chuvas na América do Sul e é o lar de povos indígenas, assim como de inúmeras espécies animais e vegetais.

E o exemplo canadense prova que a raça humana empoderada é, sim, capaz de ter um comportamento decente para com o meio ambiente.

*Artigo publicado no jornal A Tarde em 23 de julho de 2022

*Ludmilla Duarte é Jornalista, Especialista em Direitos Humanos, mestre em Política Pública e Administração pela Adler University (Vancouver, Canadá) e doutoranda em Política Ambiental na Universidade de Nairobi (Quênia).

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